“Doente,
nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser
ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la restituir.
Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um
salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um libertador. Essas razões eram
sem importância? Não eram tais que comoveriam Deus a ponto de fazê-lo descer
até nossa natureza humana para visitá-la, uma vez que a humanidade se
encontrava em um estado tão miserável e tão infeliz?” [1]
O
homem moderno, em profunda crise de fé, coloca sobre si mesmo um fardo
pesadíssimo, um peso insuportável para ser carregado sozinho, vive no escuro,
tateando para encontrar um caminho, um sentido. Para o cristão consciente, o
caminho e o sentido já lhe foram dados e o fardo insuportável lhe foi tirado
das costas, isso porque o Verbo
Divino se fez carne, abaixou-se livremente até a nossa condição e veio nos
redimir. Em latim, Et Verbum caro factum est; no grego, o “Verbum”
torna-se o “Logos”, literalmente traduzido por sentido: O sentido se fez
carne e habitou entre nós. Alegrem-se todos os cristãos, Cristo é o nosso
sentido! “Já antes de fazermos sentido da nossa parte, existe sentido. Ele nos
abraça. Nós nos apoiamos nele. O sentido não é uma função da nossa ação, mas a
condição que a torna possível.” [2]
É
belíssimo pensar em tão admirável intercâmbio entre nós e Deus, este vem
assumir nossa humanidade e nos transmitir a sua divindade. Cada um de nós tem
vocação divina, não para ser ídolo e se colocar no lugar de Deus, mas para
juntar-se a Ele na glória do céu, esse é o Seu desejo, ao qual precisamos
corresponder na humildade e abertura de coração.
Originalmente,
a manjedoura é o lugar em que se coloca o alimento dos animais no estábulo.
Nosso Salvador dignou-se nascer em uma manjedoura, prefigurando já sua Páscoa,
sua entrega por cada um de nós no sacrifício da cruz, que é um só com o
sacrifício eucarístico. É Jesus quem está diante de nossos olhos a cada Santa
Missa, devemos suplicar incessantemente: “Senhor, eu creio em ti, mas aumentai
a minha fé”, para aí podermos dizer, de todo coração, diante de Jesus
Eucarístico: “Eu creio que tu estás substancialmente presente em corpo, sangue,
alma e divindade sob o véu do pão e do vinho”. Assim poderemos viver e
compreender a encarnação, o natal de nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesse
natal, com Santo Agostinho, digamos verdadeiramente: “Ó meu Deus, tu te dás e
te entregas a mim. Eu te amo. E, se ainda é pouco, faze que eu te ame ainda
mais. Não posso medir para saber quanto me falta de amor, que seja suficiente
para que a minha vida corra para os teus braços e daí não se afaste (...).” [3]
Não nos deixemos ofuscar por tantas luzes exteriores, mas voltemo-nos para Aquele
que é a verdadeira luz e quer ser levado por cada um de nós para iluminar o
mundo.
“Glória a Deus no mais alto dos céus e na
terra paz aos homens, objetos da benevolência divina.” [4]
Peçamos
a intercessão de Maria, que gerou o menino Jesus em seu ventre, para que ela
possa gerá-Lo também em nossos corações.
Nesse
último texto do ano, quero agradecer a todos que leram e compartilharam o blog
Amor e Missão, o qual tem o único objetivo de levar a luz de Cristo ao mundo e
assim realizar o natal em quantos corações for possível, para a maior glória de
Deus. Feliz Natal a todos!
[1] São Gregório de Nissa. Catecismo da Igreja
Católica, 457.
[2]
Bento XVI. Dogma e Anúncio. Editora
Loyola.
[3]
Santo Agostinho. Confissões. Editora
Paulus.
[4]
Lc 2, 14.
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