Eis
um belo texto do Cardeal teólogo Henri de Lubac. Detalhe importante: quando escreveu o livro
“Meditation sur l’Eglise” (Meditações sobre a Igreja,
numa tradução livre para o português), na década de 1950, o então Padre Henri de
Lubac estava sob voto de silêncio, o qual acolheu em total
obediência e amor à Mãe Igreja, acusado injustamente de
liberalismo teológico por alguns membros da própria Igreja (somente conhecendo o clima vivido naquela época pode-se compreender o fato). Mais tarde, compreendeu-se o equívoco e o Padre Henri de Lubac foi um dos principais
consultores teológicos do Concílio Vaticano II, posteriormente
feito Cardeal pelo Beato Papa João Paulo II. Sigamos o exemplo desse
grande homem, no amor e na obediência à Santa Madre Igreja.
O
texto foi retirado do site www.domhenrique.com.br
, o qual recomendo a todos como excelente fonte de leitura. Deus vos
abençoe e Maria vos proteja!
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O
homem da Igreja ama a beleza da casa de Deus. A Igreja roubou seu
coração. É sua pátria espiritual. É sua mãe e seus irmãos.
Nada que lhe diga respeito deixa-lhe indiferente ou afastado. Ele se
radica em seu solo; forma-se à sua imagem, integra-se na sua
experiência; sente-se rico das suas riquezas. Tem consciência de
participar por meio dela, e apenas por meio dela da estabilidade de
Deus. Dela aprende como viver e como morrer. Não a julga, mas se
deixa julgar por ela. Aceita com júbilo todos os sacrifícios por
sua unidade.
O
homem da Igreja ama o seu passado. Medita sobre sua história. Venera
e explora sua tradição... Aceita o ensinamento do magistério como
norma absoluta. Acredita simultaneamente que Deus nos revelou tudo,
de uma vez por todas, no Filho e que, todavia, o pensamento divino
adapta a cada época, na Igreja e mediante a Igreja, o entendimento
do mistério de Cristo... E compreende, enfim, em qualquer
circunstância, que não pode ser um membro ativo do corpo se não
for antes de mais nada um membro submetido, dobrável e dócil à
direção da cabeça. Não pretende, mesmo submetendo-se
integralmente em tudo, trabalhar por conta própria à margem da
comunidade. Não se reconheceria o direito de dizer-se homem da
Igreja se não fosse acima de tudo e sempre, com absoluta
sinceridade, seu filho... Ela não nos deu à luz para em seguida nos
abandonar e deixar que cada um corra o seu risco: mas sim nos
conserva e nos mantém unidos no seu seio materno. Nunca deixamos de
viver do seu espírito, como as crianças encerradas no seio materno
vivem da substância da mãe. Todo católico autêntico nutre para
com ela um sentimento de terna piedade. Gosta de chamá-la com o
título de “mãe”, título saído do coração dos seus primeiros
filhos, como os textos da antiguidade cristã testemunham
abundantemente. Todo católico verdadeiro proclama com São Cipriano
e Santo Agostinho: Não pode ter Deus como pai quem não tenha a
Igreja como mãe...
Seja,
portanto, louvada essa grande Mãe, pelo mistério divino que nos
comunica, introduzindo-nos nele através da dupla porta,
constantemente aberta, da sua doutrina e da sua liturgia! Seja
louvada pelo perdão que nos assegura! Seja louvada pelos focos de
vida religiosa que suscita, que protege e cuja chama mantém viva!
Seja louvada pelo universo exterior que nos desvela e em cuja
exploração nos guia! Seja louvada pelo desejo e a esperança que
cultiva em nós! E louvada seja inclusive por tudo aquilo que ela
desmascara e dissipa nas nossas ilusões, para que a nossa adoração
seja pura! Louvada seja essa grande Mãe!
Mãe
casta, nos infunde e conserva em nós uma fé sempre íntegra, que
nenhuma decadência humana, nenhum envelhecimento espiritual, por
mais profundo que seja, pode manchar. Mãe fecunda, não cessa de nos
dar novos irmãos por meio do Espírito Santo. Mãe universal, cuida
igualmente de todos, dos pequenos como dos grandes, dos ignorantes
como dos sábios, do humilde povo das paróquias como da grei eleita
das almas consagradas. Mãe venerável, nos garante a herança dos
séculos e tira do seu tesouro coisas antigas e novas. Mãe paciente,
recomeça a cada dia sem se cansar a sua obra de lenta educação e
reconstrói, um por um, os fios da unidade que os seus filhos
continuam rompendo. Mãe atenta, nos protege contra o Inimigo, que
ronda em nossa volta procurando nos desmembrar. Mãe amorosa, que não
nos dobra sobre si mesma, mas nos lança ao encontro de Deus, que é
todo amor...
Sê
louvada, ó Mãe do belo amor, do temor salutar, da ciência divina e
da santa esperança! Sem ti, nossos pensamentos permanecem esparsos e
flutuantes: tu os ligas em um feixe robusto. Tu dissipas as trevas em
que alguém treme, se desespera ou, mesquinhamente, retalha sob sua
medida, o romance do infinito. Sem nunca nos desencorajares , nos
proteges dos mitos enganadores, nos poupas o desencaminhamento e o
desgosto de todas as igrejas feitas por mãos de homem. Tu nos salvas
da ruína em presença de nosso Deus! Arca vivente, porta do Oriente;
Espelho imaculado da atividade do Altíssimo! Tu, que és amada pelo
Senhor do universo, iniciada em seus segredos e que nos instruis
sobre aquilo que lhe agrada! Tu, cujo esplendor espiritual, nos
piores momentos, não nos ofusca! Tu, graças a quem a nossa noite é
banhada de luz! Tu, por quem todo dia o sacerdote sobe ao altar do
Deus que renova a sua juventude! Sob a escuridão do teu manto
terrestre, a glória do Líbano está em ti. Tu nos dás todo dia
aquele que unicamente é a vida e a verdade! Por ti temos a esperança
da vida. Tua recordação é mais doce que o mel e aquele que te
escuta nunca conhecerá a confusão. Mãe santa, mãe única, mãe
imaculada! Ó grande Mãe! Santa Igreja, verdadeira Eva, a única
verdadeira Mãe dos viventes! (Meditation
sur l’Eglise)
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