quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Cantos de Amor à Mãe Igreja



Eis um belo texto do Cardeal teólogo Henri de Lubac. Detalhe importante: quando escreveu o livro Meditation sur l’Eglise” (Meditações sobre a Igreja, numa tradução livre para o português), na década de 1950, o então Padre Henri de Lubac estava sob voto de silêncio, o qual acolheu em total obediência e amor à Mãe Igreja, acusado injustamente de liberalismo teológico por alguns membros da própria Igreja (somente conhecendo o clima vivido naquela época pode-se compreender o fato). Mais tarde, compreendeu-se o equívoco e o Padre Henri de Lubac foi um dos principais consultores teológicos do Concílio Vaticano II, posteriormente feito Cardeal pelo Beato Papa João Paulo II. Sigamos o exemplo desse grande homem, no amor e na obediência à Santa Madre Igreja.
O texto foi retirado do site www.domhenrique.com.br , o qual recomendo a todos como excelente fonte de leitura. Deus vos abençoe e Maria vos proteja!
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O homem da Igreja ama a beleza da casa de Deus. A Igreja roubou seu coração. É sua pátria espiritual. É sua mãe e seus irmãos. Nada que lhe diga respeito deixa-lhe indiferente ou afastado. Ele se radica em seu solo; forma-se à sua imagem, integra-se na sua experiência; sente-se rico das suas riquezas. Tem consciência de participar por meio dela, e apenas por meio dela da estabilidade de Deus. Dela aprende como viver e como morrer. Não a julga, mas se deixa julgar por ela. Aceita com júbilo todos os sacrifícios por sua unidade.
O homem da Igreja ama o seu passado. Medita sobre sua história. Venera e explora sua tradição... Aceita o ensinamento do magistério como norma absoluta. Acredita simultaneamente que Deus nos revelou tudo, de uma vez por todas, no Filho e que, todavia, o pensamento divino adapta a cada época, na Igreja e mediante a Igreja, o entendimento do mistério de Cristo... E compreende, enfim, em qualquer circunstância, que não pode ser um membro ativo do corpo se não for antes de mais nada um membro submetido, dobrável e dócil à direção da cabeça. Não pretende, mesmo submetendo-se integralmente em tudo, trabalhar por conta própria à margem da comunidade. Não se reconheceria o direito de dizer-se homem da Igreja se não fosse acima de tudo e sempre, com absoluta sinceridade, seu filho... Ela não nos deu à luz para em seguida nos abandonar e deixar que cada um corra o seu risco: mas sim nos conserva e nos mantém unidos no seu seio materno. Nunca deixamos de viver do seu espírito, como as crianças encerradas no seio materno vivem da substância da mãe. Todo católico autêntico nutre para com ela um sentimento de terna piedade. Gosta de chamá-la com o título de “mãe”, título saído do coração dos seus primeiros filhos, como os textos da antiguidade cristã testemunham abundantemente. Todo católico verdadeiro proclama com São Cipriano e Santo Agostinho: Não pode ter Deus como pai quem não tenha a Igreja como mãe...
Seja, portanto, louvada essa grande Mãe, pelo mistério divino que nos comunica, introduzindo-nos nele através da dupla porta, constantemente aberta, da sua doutrina e da sua liturgia! Seja louvada pelo perdão que nos assegura! Seja louvada pelos focos de vida religiosa que suscita, que protege e cuja chama mantém viva! Seja louvada pelo universo exterior que nos desvela e em cuja exploração nos guia! Seja louvada pelo desejo e a esperança que cultiva em nós! E louvada seja inclusive por tudo aquilo que ela desmascara e dissipa nas nossas ilusões, para que a nossa adoração seja pura! Louvada seja essa grande Mãe!
Mãe casta, nos infunde e conserva em nós uma fé sempre íntegra, que nenhuma decadência humana, nenhum envelhecimento espiritual, por mais profundo que seja, pode manchar. Mãe fecunda, não cessa de nos dar novos irmãos por meio do Espírito Santo. Mãe universal, cuida igualmente de todos, dos pequenos como dos grandes, dos ignorantes como dos sábios, do humilde povo das paróquias como da grei eleita das almas consagradas. Mãe venerável, nos garante a herança dos séculos e tira do seu tesouro coisas antigas e novas. Mãe paciente, recomeça a cada dia sem se cansar a sua obra de lenta educação e reconstrói, um por um, os fios da unidade que os seus filhos continuam rompendo. Mãe atenta, nos protege contra o Inimigo, que ronda em nossa volta procurando nos desmembrar. Mãe amorosa, que não nos dobra sobre si mesma, mas nos lança ao encontro de Deus, que é todo amor...
Sê louvada, ó Mãe do belo amor, do temor salutar, da ciência divina e da santa esperança! Sem ti, nossos pensamentos permanecem esparsos e flutuantes: tu os ligas em um feixe robusto. Tu dissipas as trevas em que alguém treme, se desespera ou, mesquinhamente, retalha sob sua medida, o romance do infinito. Sem nunca nos desencorajares , nos proteges dos mitos enganadores, nos poupas o desencaminhamento e o desgosto de todas as igrejas feitas por mãos de homem. Tu nos salvas da ruína em presença de nosso Deus! Arca vivente, porta do Oriente; Espelho imaculado da atividade do Altíssimo! Tu, que és amada pelo Senhor do universo, iniciada em seus segredos e que nos instruis sobre aquilo que lhe agrada! Tu, cujo esplendor espiritual, nos piores momentos, não nos ofusca! Tu, graças a quem a nossa noite é banhada de luz! Tu, por quem todo dia o sacerdote sobe ao altar do Deus que renova a sua juventude! Sob a escuridão do teu manto terrestre, a glória do Líbano está em ti. Tu nos dás todo dia aquele que unicamente é a vida e a verdade! Por ti temos a esperança da vida. Tua recordação é mais doce que o mel e aquele que te escuta nunca conhecerá a confusão. Mãe santa, mãe única, mãe imaculada! Ó grande Mãe! Santa Igreja, verdadeira Eva, a única verdadeira Mãe dos viventes! (Meditation sur l’Eglise)

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