segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Autoconhecimento - Sobre Vícios e Virtudes




Antes de iniciarmos propriamente, dois pedidos: não deixe que a preguiça o impeça de ler o texto por inteiro, isso já faz parte da dinâmica do que será proposto. Faça a leitura quando dispuser de tempo para uma autoanálise, a pressa será, aqui, uma adversária.

A partir de agora, vamos fazer uma viagem, talvez das mais difíceis que já fizemos. Para onde vamos, então? Para dentro de nós mesmos, conhecer um pouco mais o abismo que somos nós, em uma viagem que deve ser feita todos os dias de nossa vida. O conhecimento próprio tem em vista saber como somos para saber como devemos ser, exige especialmente que nos comparemos com o que Deus quer e espera de nós.

Para a nossa tarefa, precisamos de alguns parâmetros que nos guiem nesta viagem, sinais que nos indiquem o caminho. Podemos nos examinar, pois, à luz dos sete vícios capitais e das sete virtudes que usamos para combatê-los. As virtudes são de grande ajuda na busca da vocação universal dos cristãos: a santidade.

 Antes de começarmos, entretanto, atentemos a algumas informações importantes:

1.   Nesta viagem, analisemo-nos sob o olhar de Deus: como nos diz o profeta Samuel, “o homem vê o rosto, a aparência, mas Deus vê o coração” (1 Sm 16, 7). O olhar dEle não disfarça ou esconde o que precisa ser mostrado, traz à superfície não só os frutos, bons ou maus, da nossa vida, mas também a raiz, as motivações (ou causas) às vezes desconhecidas do nosso agir e do nosso pensar.
2.   Evitemos o subjetivismo: quando sofremos desse problema, negamos que exista a Lei de Deus (o amor a Ele, ao próximo e a nós mesmos) como regra maior pela qual medir o valor dos nossos atos e, consequentemente, afirmamos a supremacia absoluta da própria consciência como norma de conduta; assim, somos corrompidos pelo nosso egoísmo e pelas ideias da moda. No fim das contas, o subjetivista diz: “Eu me basto, sei o que é melhor pra mim, não preciso de ninguém para me dizer”.
Os sete vícios capitais (ou pecados capitais, ou ainda doenças espirituais) são soberba, ira, inveja, luxúria, gula, avareza e preguiça. São chamados capitais porque são a raiz e a fonte de todas as falhas de comportamento, geram outros defeitos e pecados. Vamos tratar brevemente sobre cada um. Durante o percurso, devemos nos examinar e perceber quais nos afetam mais, pois é a estes que precisamos combater por primeiro. Combater como? Com as virtudes que serão propostas logo abaixo de cada vício, força de vontade, perseverança e, acima, de tudo, com a graça de Deus; afinal, como nos ensina uma velha regra teológica: “Deus não nega a sua graça a quem faz o que pode”. Boa viagem!

·      A soberba é a procura desordenada da própria glória, um amor-próprio doentio que nos coloca sempre em primeiro lugar, em destaque. Se pudesse, o soberbo rezaria “seja feita a minha vontade assim na terra como no céu”. A soberba gera o egoísmo, a vaidade, o orgulho, a ambição desmedida, entre outros pecados.
- Humildade: é o reconhecimento da nossa pequenez, da verdade sobre nós mesmos, sabendo que tudo é dom de Deus. Devemos recorrer a Nossa Senhora, que é exemplo de humildade, para pedir essa virtude.

·      A avareza consiste no apego e no desejo desmedido dos bens temporais, do que é material e passageiro, como o dinheiro. A avareza pode originar, entre outros pecados, o roubo, a mesquinhez, a injustiça com as outras pessoas e a indiferença para com os mais pobres.

- Generosidade: é o despojamento quanto aos bens materiais, compartilhando-os com aqueles que necessitam. Também é a atitude daquele que coloca a própria vida a serviço do próximo. Deus é generoso com seus filhos, portanto, todo cristão deve ser generoso com seu próximo.

·      A luxúria, ou impureza, é o exercício desordenado e incorreto que o ser humano faz da sexualidade, que é dom de Deus, devendo ser manifestada dentro da linguagem do verdadeiro amor. Trata-se da atitude de quem coloca sua felicidade nos prazeres ligados à sexualidade, daquele que busca desenfreada e egoisticamente o prazer, tratando o outro como objeto. A luxúria pode ter como consequências: pecados evidentes contra a castidade, atos desonestos, falsidade, perda da fé e desespero da misericórdia divina.
- Castidade: é o respeito pelo nosso corpo e pelo corpo do próximo, reconhecendo toda a dignidade do ser humano, imagem e semelhança de Deus. Gera o domínio de si, para a livre, gratuita e total doação ao outro. Em suma, é uma escola de amor.

·      A ira é um estado emocional desordenado, de raiva excessiva, que retira a paz de nós mesmos e leva-nos a uma oposição despropositada às pessoas, situações etc. Como efeitos da ira, podemos citar homicídios, desavenças, injúrias e ódio.
- Mansidão: consiste na calma, na tranquilidade, no equilíbrio emocional. O constante contato com Deus através da oração contribui diretamente para alcançarmos essa virtude, pois nos ajuda a refletir, sob a ótica de Deus, sobre nossos pensamentos e atitudes.

·      A gula é a atração desordenada pela comida ou bebida. O guloso costuma colocar o prazer da comida ou da bebida como fonte maior de felicidade, ignora que o alimento é dom de Deus, pelo qual devemos dar graças. Portanto, é possível ser guloso sem comer muito; trata-se, na verdade, da atitude que temos diante do alimento. Popularmente, consiste também no “comer com os olhos”, excessivamente. Além de prejudicar a saúde (o que atenta contra o 5º mandamento: “não matar”), traz como consequência a perda de forças para lutar contra as demais doenças espirituais, injustiça, egoísmo etc.
- Temperança: trata-se da moderação dos prazeres, perceber a medida certa, não passar dos limites. Não há dúvidas de que os prazeres são dom de Deus, são, para nós, uma prefiguração dos prazeres celestes e nos fazem querer estar com Deus; contudo, quando em excesso, prejudica-nos, pois acabamos trocando o Criador pelas criaturas.

·      A inveja é a tristeza causada pelo fato de haver alguém feliz, alcançando seus objetivos, o sofrimento pela melhor sorte dos outros, ou seja, é pensar que o outro nunca poderá estar em situação melhor do que a nossa. Produz o ódio, a calúnia, o ressentimento, entre outros males.
- Caridade: é a virtude pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. A caridade nos ajuda a querer o bem do próximo, a desejar sua felicidade e a se alegrar junto com ele.

·      Por fim, temos a preguiça ou acídia, que consiste em fugir das obrigações, dos compromissos e dos trabalhos pelo esforço que estes implicam. É a atitude daquele que se conforma com a mediocridade, que se acomoda, até mesmo na busca pela santidade. Causa o desleixo na vida de oração, faltas injustificadas à Santa Missa dominical e em dias de preceito, fuga das obrigações familiares e profissionais (estudar também é uma profissão), entre outros defeitos.
- Diligência: trata-se de cumprir nossas obrigações e compromissos com todo amor, como se tudo estivesse sendo feito para Deus. Todos os nossos esforços diários podem ser oferecidos a Ele, na esperança de que sejam uma oferta agradável.

Chegamos ao fim da nossa viagem. Como foi a experiência? Certamente difícil e incômoda, afinal encaramos nossos próprios defeitos e pecados. Felizmente, temos ao nosso lado um Deus infinitamente misericordioso, que nos ama mais do que podemos imaginar ou compreender; temos os Sacramentos, em especial a Eucaristia e a Confissão; temos Maria, nossa mãe e intercessora; e todos os anjos e santos ao nosso lado.

 Após aprofundarmos o conhecimento sobre nós mesmos, é necessário buscarmos corrigir os problemas verificados, ou seja, buscar propósitos concretos e realistas, sem medo ou disfarces, mesmo que nos custe alguns sacrifícios e renúncias. São João Bosco dizia que a vida é um presente de Deus para nós, e o que fazemos dela é o presente que damos a Ele. Que tal começarmos por uma boa confissão, uma visita ao Santíssimo Sacramento, para alguns minutos de oração, e a participação na Santa Missa?

Deus nos abençoe e Maria nos proteja!